Esperemos, pois, para ver. O Mestre Paula Campos é parte do nosso Património Cultural.

      Nesta terra também houve um hotel, o "Bela Vista" em "chalet" em estilo toscano do século XIX; antiga propriedade da família Massetti, hoje desfigurado, arrancado o seu telhado amansardado, destruído o airoso torreão e remate delicado de onde se avistava magnífica panorâmica da região, de grande amplitude e beleza.

 

2.   Da Paisagem Protegida

      A "morte" das "férias grandes" veio trazer a estagnação e o declínio da Aldeia. Nestes três meses, de lazer e descanso, revigorantes, aqui se fixavam famílias em sadia simbiose social, concertavam-se amizades (e casamentos!). Pro­movia-se o convívio franco e a solidariedade.

      Economicamente, a terra progredia, desenvolvia-se certa indústria caseira e o artesanato, então de raízes tradicionais, como a cestaria.

      O próprio pinhal, de predominância do manso, frondoso e centenário, abrigava jovens e velhos em divertido convívio. Era o "Pinhal do Freitas", o preferido; próximo da povoação, situava-se sobre um grande morro de areia, de onde se avistava o mar e servia para alegres pic-niques colectivos.

      Recentemente, sem se dar por isso, desapareceu. Areeiros, cúmplices da betonização do território, arrancaram os pinheiros e arrasaram o morro..

      Mas a grande transformação vem com o desaparecimento das vinhas — de areia — que nos davam o precioso "ramisco" (o "que ia às mesas dos reis"), cultura outra, valiosa e importante para a economia local, próprio e específico do sistema dunal da região.

      As vinhas eram a paisagem emblemática mais conhecida (pudera!) com a sua quadrícula de "abrigos", sistema ideal para proteger das espumas das marés vivas, carreadas pela ventania dos invernos, aqui e então rigorosos.

      Das canas restaram os rizomas que floresceram e vão-se reproduzindo a repovoar todo o território com novas manchas verdes, só que para nada presta nem há burros para comer suas folhas, outra espécie aqui em extinção.

      A partir dos anos 40, começa a verificar-se a ocupação selvagem da várzea marginal ao rio dos Moleiros, desaparecendo os espaços públicos e rota de "guarda-rios"; desapareceram os choupos que bordejavam o rio, ficando até há pouco apenas um ou dois exemplares destas elegantes árvores, lá para montante.

      O rio dos Moleiros corre (pouco) entre muros e paredes de vedação, qual caneiro de Alcântara mais pequeno.

                As matas de tramagueiras, das encostas, sobretudo da arriba sul, desde a Eira do Moinho (de vento de que havia dois, pelo

menos) desapareceram e com elas foram-se os bandos de passarinhos que ali se aninhavam para gozo dos miúdos em exercício de tiro ao alvo com as fisgas de seu fabrico.

 

3.   Das Fontes Públicas.

      Algumas destas fontes ainda "dão" água e têm vindo a ser ornamentadas ao gosto geral de certo barroquismo de azul e branco, mas algumas há ainda sem esses novos arrebiques. Os níveis freáticos foram secando com a desertificação e urbanização galopantes e seus cursos foram desviados sem qualquer utilidade.

      As fontes existentes, pois já pouca água apresentam, como a Fonte Caída, ao abandono hoje, a Fonte do Bengalas recentemente restaurada, é abastecida pelos SMAS.

      Havia a Fonte do Prego, a caminho da Praia da Aguda e a Fonte do Mar sob graciosa gruta natural, hoje entaipada. Em recinto particular estava a Fonte se S. João e, como oferta de proprietários contíguos apareceu a Fonte de S.º António — que hoje não dá água — e que muitos chamam de Fonte do Povo.

      Resta-nos a Fonte do Mindelo, na raia entre a Praia das Maçãs e a do Arção, célebre porque já deu vinho.

 

4.   Do Património Natural

      Profundas alterações houve no litoral onde a erosão natural é difícil de controlar e que a acção do homem sobretudo vem acentuando.

      Grave perda foi, porém, a derrocada em noite tempestuosa da "Esfinge", monólito gigantesco, isolado da falésia configurando uma cabeça humana; bloco de rocha que nascendo da praia subia à Esplanada Oceânica.

      Foi fotografada por turistas e visitantes que por ali passavam e tema de aguarela de Paula Campos e de um óleo de Pomar, quadro que ele tomou para a sua colecção particular.

 

5.   Do Clima, finalmente

      Com a perda de tantos espaços verdes, de cursos de água e lençóis aquíferos (o rio dos Moleiros quase seca no Verão); com o aumento da "pressão urbana", do alcatrão e de outros factores, o clima modifica-se naturalmente.

      Assim, de há certo tempo deixou de haver os nevoeiros húmidos típicos dos meses de Julho e Agosto, tão característicos do nosso litoral (como impertinentes), passando a contar-se agora mais tarde — até há poucos dias, com uma bruma seca, asfixiante, parda, acastanhada, trazida do oceano pelos ventos predominantes.

      O Verão é cada vez mais quente, prolongando-se, agora sem interrupção ao S. Mar­tinho, com lindos dias soalheiros e grandes, extensas praias, do Magoito ao Arção. Mas

 

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