Medicinais da Índia.

      No século XVIII, em 1751, no seu Dicionário Geográfico, o Padre Luís Cardoso (CARDOSO, 1751, p. 133.) refere que a exploração era feita também em galeria subterrânea: «monte mina­do por baixo [...] é bastante cavado, entrando- -se nele com luz, com o reflexo d’ela parece que está a gruta armada e guarnecida de galões d’ouro». Efectivamente existe uma gruta natural na Mina Pequena, nos calcários recifais que rodeiam o filão basáltico, de dimen­sões re­duzidas (15 metros em corredor) e de paredes cobertas de massa estalagmítica. Nas Memórias Paroquiais de Belas de 1758 (AZEVEDO,1982, pp.149-150), o padre João Chry­sostomo informa-nos que a exploração mineira do Suímo era já coisa do antigamente, apesar de: «ainda se achaô / algumas muito pequenas, tem a cor mais escura, que a do rubim, e no riso [brilho] quasi o igualaó /»; apesar de abandonadas as mi­nas continuavam a despertar a atenção e o imagi­nário da população local.

      Vamos então à Tradição e Toponímia! – Quando em miúdo palmilhávamos as azinhagas de Belas, rumo ao Rio do Porto, estávamos então longe de sabermos a ancianidade desses trilhos ladeados de frondosa e luxuriante vegetação. A estes cenários idílicos ligam-se: um imaginário rico e uma toponímia secular. Conta-nos a tradição local que a Ribeira do Jamor toma ali o nome de Rio do Porto uma vez que os Romanos utilizariam a via e a ponte de vau como porto de embarque do ouro, recolhido no Suímo, em faluas que desciam todo o curso do Jamor em direcção ao Tejo. Mas, para nós, era o lugar idílico de banhos refrescantes em águas cristalinas.

      De aparente raiz latina o topónimo Monte Suímo expressa uma realidade orográfica: Mons Summos > Monte mais elevado. Porém, não pode­mos descurar outros étimos quer de origem pré-la­tina, nomeadamente do céltico “Suimm” que ex­pressa a mesma ideia de monte mais elevado, quer os originados pelas numerosas transliterações ára­bes como: “Siyum”, neste caso precedida de um vocábulo latino: Mons.

      Entretanto outros topónimos foram apare­cendo ao longo dos tempos (a dois

níveis: macro e microtoponímia) e, também eles são fruto da História e Tradição. Alguns estão ligados à memória de antigos proprietários, como o da rua dos Galvões, que perpetua a memória dos Galvões Mexias, ricos proprietários do Casal do Suímo, no século XVIII (vid. texto do prof. J. M. Vargas), ou da Azinhaga dos Machados, que também perpetua a memória de um tal Pedro Machado proprietário, no século XVI, da Quinta da Carregueira, razão pela qual era alcunhado de “Carregueiro”.

      Outros topónimos estão ligados intimamente a aspectos hidrológicos: é o caso das quintas da Fontareira, Fonte Santa, Águas Livres, do Tanquinho, do Molha Pão e Águas Férreas; nestes casos a toponímia confirma a importância do complexo oro-hidrológico da Serra da Carregueira quer ao nível das águas pluviais, quer ao nível das águas subterrâneas, testemunhada por abundantes obras hidráulicas de vulto edificadas em diferentes épocas, de técnicas construtivas e funções variadas.

      Podemos encontrar, também, alguns topónimos intimamente ligados a aspectos geomorfológicos, bióticos, a regimes jurídicos, antigos, de posse e exploração de propriedades e, por último, mas não menos importante, a teonimos isto é: a determinados Santos. Assim, na área da Serra da Carregueira, encontramos micro-topónimos como São Mamede; Tapadas dos Grilos, dos Coelhos, dos Penedos Pardos e de Carpeniques. No caso destes dois últimos topónimos, apesar de pensarmos que estão ligados a regimes jurídicos, antigos, de posse e exploração de propriedade (Pardo, s.m. Ant. Parque ou Coutada; e Carpeniques possível variante local de Carpentaria isto é: Casal reguengo que pagava foro em carradas de lenha [MACHADO,1981,t.II,p.622]), mantemos esta nossa opinião sub judice, dado a escassez documental na base da nossa investigação.

      Para terminar, deixamos um brado de alerta! - Independentemente da discussão em torno de futuros empreendimentos urbanísticos importa realizar um estudo aprofundado e multidisciplinar do Complexo Oro-hidrográfico da Carregueira, para que, no futuro, não tenhamos surpresas desagradáveis e nefastas.

 

Bibliografia:

 

AZEVEDO, José Alfredo da Costa,1982, «Velharias de Sintra IV, “Memórias Paroquiais” de 1758», edição da C. M. de Sintra, pp.149-150. BYRNE, I. Nadal de Sousa,1993, «A rede viária da Zona Oeste do Município Olissiponense (Mafra e Sintra), Al-Madam, sér. II, n.º 2; Centro de Arqueologia de Almada, pp.41-45. COELHO, António Borges, 1972, «Portugal na Espanha Árabe». Vol. I, “Seara Nova”, Lisboa. CARDOSO, Padre Luís, 1751, «Dicionário Geográfico».Tomo II, pág. 133. CHOFFAT, Paul, 1914, «Les Mines de Grenats du Suímo», Comunicações da Comissão do Serviços Geológicos de Portugal, tom. , Lisboa, pp. 194-195. GUERRA, Amílcar, 1995, «Plínio-o-Velho e a Lusitânia», in: Arqueologia & História Antiga I, edi. Colibri, F.L.L., Lisboa, p. 140. LINDLEY CINTRA, Luís Filipe, 1954, «Crónica Geral de Espanha de 1344», Edição Crítica do Texto Português, v. II, Academia Portuguesa de História, Lisboa, p 67. MACHADO, José Pedro,1981,«Grande Dicionário da Língua Portuguesa»; edição Soc. Ling. Portuguesa /Amigos do Livro, tom. II, Lisboa, p.622. PEREIRA, Esteves, e DIAS, G.Rodrigues,1906, «Dicionário Histórico, Biográfico, Heráldico, Coreográfico, Numismático e Artístico», Vol. II B-C, pp.269-270 PROVENÇAL, Lévi, 1953, «Description de l’Espagne d’Ahmed Al–Razî», in: Al Ândaluz, vol. XVII, Fasc. I, Madrid.  

 

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