Ombro a ombro, por Sintra...

 

Élvio Melim de Sousa

      O que é, hoje, Sintra? Nada mais do que um espaço que se volveu sinónimo de património, de museus, de monumentos e de Cultura. E isto apesar de o Concelho deter, na actualidade, grande importância, quer política, quer económica, quer social, não só a nível da Área Metropolitana de Lisboa, como, mesmo, a nível do próprio país.

      Quando se ouve, inteiro, sonoro e redondo, o nome de Sintra, sabe-se, desde logo, a que se está a induzir, a referir ou a reportar.

      É por isso que Sintra persiste no imaginário português como terra encantada, mágica e legatária de uma riquíssima memória colectiva, simultaneamente local, regional e nacional; e fazendo com que ela seja aquilo que se procura nela, apenas e só uma terra monumental, reconhecida e admirada por todos e acreditada (e creditada) pelas instituições nacionais e internacionais de direito, a fim de que a sua divulgação não esmoreça, ou irremediavelmente pereça no correr dolente do tempo.

      A tradição cultural de Sintra, baseada numa assimilação de valores e de patrimónios diversos, acumulados continuamente ao longo da História é, sabemo-lo, e nos tempos que se vivem, a sua maior atracção e a sua principal mais-valia.

      Só se vem a Sintra para ver coisas bonitas, para visitar museus e monumentos únicos e para contemplar paisagens deslumbrantes e de cortar a respiração. Todo o ‘resto’, apesar de também ser Sintra, não ‘interessa’, ou interessa menos e passa ao lado. É assim e sempre foi assim. Sintra tornou-se, pois, um espaço de Cultura de excelência, onde coabitam todos os tipos de lazer cultural, havendo, sempre à partida, como que uma ‘garantia’ intrínseca e natural de sucesso e de êxito em tudo o que ali de cultural seja realizado, inaugurado, divulgado

 

e/ou patenteado ao público, desde que — e isso é condição imperativa, há que frisar — detenha qualidade e bom-gosto.

     Este padrão de qualidade e de beleza, verdadeira bitola sensorial do organismo vivo e frágil que é Sintra, terá de ser preservado rigorosamente, até porque, face à concorrência feroz que se regista – não só no âmbito de uma escala nacional, como europeia e global – facilmente os destinos de turismo cultural, ou, tão-só, da simples, ocasional e descomprometida fruição intelectual e de conhecimentos se alteram e se alternam, por vezes, por períodos demasiado longos para se poder, em tempo útil, inverter positivamente essa tendência, ou corrigir os seus efeitos.

      Mas, no caso de Sintra, com a sua excepcionalidade reconhecida pela UNESCO, desde 1995, e com todo o enquadramento jurídico daí resultante, aliado, por sua vez, a um território concelhio peculiar e de eleição (mar, orografia, monumentos, tradição), o nome de Sintra extravasa a Vila-Museu e seu imediato entorno geográfico, para se alargar a um espaço muito mais amplo. Ou seja, ao ponto de englobar toda a vasta área sob a sua administração municipal, passando Sintra a ser, portanto, não já a Vila-Museu que se referiu, mas sim o autêntico e verdadeiro Concelho-Museu que é.

      Todavia, e embora assim funcione o Concelho e abranja o nome Sintra todo o seu dilatado termo, o que se verifica, na prática, é que, para além dos poucos circuitos clássicos de visita e de exploração turístico-cultural disponíveis (quer para nacionais, quer para estrangeiros) e que raramente saem da significativa, mas monótona e corriqueira ‘volta tradicional por Sintra’, presa à tetralogia

<< - Anterior  Pág.Inicial  Seguinte - >>