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A volta do Duche João Reis Gomes Arq.º Paisagista |
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"Sintra. A história se fez jardim" como pensava Virgílio Ferreira. Sintra, "glorioso Éden" de Byron, fresca terra, de penedos, árvores e água. É esta frescura, valorizada pela sombra do arvoredo, que sempre apreciamos quando fazemos a "volta do Duche", muito especialmente na canícula do Verão. O percurso, com um excelente património arbóreo, é uma "almofada de protecção" ao casario e ao próprio Palácio da Vila que centra o antigo agregado urbano. Neste "oásis" de vegetação exuberante, marcado pela presença da "fonte mourisca", reflexo da convecção das massas de ar húmido que vindas de noroeste sobem a serra, não deverão ser feitas alterações topográficas à cota da estrada ou ao perfil dos taludes marginais, sob pena de consequências desastrosas na arborização. Alterações dessas ou, pior, tipo túnel, iriam alterar a circulação da água no solo com efeitos desastrosos para a vegetação. As árvores aqui presentes formam um conjunto com longo tempo de interacção equilibrada. A partir da Câmara e no sentido do Palácio vemos, do lado esquerdo e até ao Parque da Vila, a encosta de cedros do Buçaco (Cypres-sus lusitanica). Realçamos como árvores principais do lado direito da estrada, iniciando a longa sequência, uma pimenteira (Schinus molle), vários cedros do Buçaco que julgamos que pertenceriam à antiga Quinta do Duche antes de aberta a rodovia, pinheiros de Alepo (Pinus halepensis) e um incenseiro (Pitosporum undulatum); à entrada da curva, à direita, no vale do rio do Porto, há um belíssimo plátano (Platanus hybrida) e ao nível da estrada, de um e de outro lado da via, vêem-se antigos plátanos de grande porte e bom estado de conservação. Já no talude da berma, uma magnólia (Magnolía grandiflora) e medronheiros (Arbutus unedo) de grande envergadura; para o fim da estrada, continuando no talude à direita, em zona baixa, mais longe do observador da estrada, há o que pensamos serem faias (Fagus silvatica), pinheiros mansos (Pinus pinea), um grande cedro do Buçaco, uma árvore de Judas (Cersis siliquastrum), um incenseiro e um belo freixo (Fraxinus sp.). Há tantos anos estão estas árvores aqui instaladas que as podemos chamar do |
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"domínio público" e, ainda que não possuindo a consideração jurídica de figura legal, deveriam ser consideradas pela autarquia como um conjunto a proteger na sua integridade. Concretamente, a nossa proposta é que, para o arvoredo da "volta do Duche", que se estende por cerca de 700 metros a partir das casas que se seguem do largo da Câmara e até às proximidades do Palácio da Vila, se crie um estatuto de sítio classificado - para que possa ser administrado e protegido - dado que qualquer alteração irá certamente prejudicar as qualidades de excelência acima referidas.
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