Associação de Defesa do Património de Sintra

 

Breves Considerações sobre o Museu

 

 de História Natural de Sintra

 

( Artigo que o Professor Miguel Barbosa escreveu para o site da A.D.P.S, o que muito nos honrou e agradecemos)

 

      Há sempre um princípio para tudo e este caso começou numa criança que encontrou um fóssil numa praia fazendo um sem fim de perguntas, de que pouco a pouco, ia tendo respostas.

      Mais tarde, ao longo dos anos, já casado, o interesse passou a dois. De tal modo era o entusiasmo de ambos que a casa onde viviam se encheu de fósseis e minerais. Espalhavam-se já pelo corredor, por toda a casa e até debaixo das camas! Eram fruto de um sem fim de pesquisas, viagens pelo estrangeiro, de trocas com paleontólogos e Museus além de compras a outros coleccionadores e feiras internacionais. Até que o espaço se tornou demasiado pequeno e a vida insuportável. O desejo de partilhar os conhecimentos com outras pessoas também os ia forçando a uma solução museológica.

      Na verdade desde que a colecção crescia que sentiam o desejo de fazer o Museu de História Natural. Escreveu-se nesse sentido para Cascais e para Sintra porque eram duas vilas de que gostavam e porque ficavam perto da sua casa em Lisboa...

      A Câmara de Sintra, na pessoa do seu Vice-Presidente, o Brigadeiro Machado de Sousa, manifestou de imediato interesse em ver a colecção mandando o Dr. Cardim Ribeiro e o Dr. Victor Serrão para apreciar. Tendo sido logo reconhecido o seu valor cultural, turístico e educativo propuseram a oferta com a contrapartida de ficarem ligados ao Museu e de só serem pagas as pesquisas futuras.

      Disseram que era mais fácil para a Câmara a compra da colecção por um valor simbólico. E aceitaram esta solução porque tinham visto no Brasil um pterossauro (réptil voador) que pela raridade lhes interessava para valorizar a colecção. Com a venda simbólica foram ao Brasil e adquiriram o fóssil, apesar de o dinheiro só ter chegado para satisfazer o custo do dinossáurio.

      A colecção era ainda, segundo o seu critério, modesta e insatisfatória, se bem que estivessem representados todos os períodos da vida na Terra. Por isso continuaram nestes longos quase trinta anos de espera a coleccionar, viajando, pesquisando, trocando e comprando. As peças eram agora oferecidas ao Museu através de Mecenatos, de tal modo que hoje a colecção é digna de qualquer Museu internacional e pelo seu tamanho, raridade e beleza dignificam Sintra e o País.

      Comprova esse facto a UNESCO, que mandou em 1984 a arquitecta Franca Helg para analisar a colecção e dar o seu parecer. A arquitecta considerou a colecção no seu relatório como "extraordinária" e a UNESCO ofereceu a sua colaboração técnica na montagem do Museu.

      O projecto inicial era para a colecção ficar no Palácio Mantero que estava em ruínas e que iria ser recuperado para nele se instalar o Museu. Projecto que mereceu de imediato o apoio da UNESCO. Os arquitectos da Câmara, juntamente com um arquitecto inglês (para os jardins) fizeram os planos e quando tudo parecia bem encaminhado a ideia caiu pela base, por motivos não explicados.

      Depois, as sucessivas Presidências da Câmara e a sua Vereação, iam mudando e pensando sempre em novos espaços, quase sempre demasiado pequenos e impraticáveis.

      No meio de avanços e recuos, de decisões e indecisões, de boas vontades e desinteresses, os fósseis e os minerais estiveram guardados em caixas de cartão nas caves húmidas do Palácio Valenças, tendo alguns apodrecido bem como as etiquetas isto até irem para outros espaços de armazenagem um pouco melhores, sofrendo também muito como é evidente, com todas as mudanças.

      Para que tudo não fosse negativo, o Dr. Cardim e a sua equipa, decidiram com a nossa concordância fazer três exposições temporárias que tiveram muito agrado dos visitantes, que largamente o expressaram, bem como as inúmeras escolas da área.

      A UNESCO nunca se esqueceu do Museu e continuou mandando cartas lamentando o desinteresse das nossas autoridades por uma colecção que reputavam de interesse mundial. Chegaram a dizer numa carta que, se no espaço de seis meses não tivessem resposta à mesma, ficaria ao dispor de todas as autoridades culturais que a requisitassem.

      Entretanto a Dra. Edite Estrela, no seu segundo mandato, arranjou um espaço que pareceu satisfatório. Tratava-se do edifício do antigo mercado de Sintra. Uma área que pareceu razoável e central, por estar no sopé do Palácio da Vila.

      Já na Vereação do actual Presidente, o Dr. Fernando Seara, fizeram-se as obras estruturais necessárias. E convidaram uma firma de arquitectos para delinearem o interior do Museu.

      Está-se agora há muito tempo à espera da concretização final do Museu. Parece-nos que desta vez o Museu não irá esbarrar na incompreensão e na falta de objectividade das promessas.

      Há cerca de trinta anos que a UNESCO e nós esperamos pacientes a sua concretização! Não será demasiado? Mas desta vez o Dr. Fernando Seara parece estar determinado. Oxalá.

 

 

Miguel Barbosa

6 de Fevereiro de 2007

 

 

 

Fotografia cedida pelo Professor Miguel Barbosa

1 - Ossos fossilizados de um urso das cavernas.

2 - Ovo de dinossauro da China.

3 - Pedaço de um chifre de Bisonte.

4 - Vários fosseis.

5 - Placa cravejada de trilobites e uma trilobite maior.

6 - Restos de um peixe fossilizado.

7 - Trilobite.

8 - Amonite.

9 - Molde de um embrião de dinossaruro.

 

 

Nota: No Boletim de 2007 teremos o prazer de publicar a entrevista que o Professor Miguel Barbosa nos concedeu,  ilustrada com fotografias, da sua colecção pessoal, de peças que irão estar patentes ao público no Museu de História Natural de Sintra.

 

  Pág.Inicial