Associação de Defesa do Património de Sintra

 

 

A GESTÃO DO VERDE SINTRENSE

 

 

1) Pequena introdução sobre a propriedade da serra de Sintra e sua ocupação

 

 - os terrenos privados;

 - os terrenos do Estado (pena, Monserrate, Capuchos e Tapada de Dom Fernando ll

 - os terrenos Baldios, sob gestão da DGRF

 - terrenos municipais

 

 2) A plantação da serra de Sintra

Quando o rei Dom Fernando II chegou a Sintra em 1839, a serra encontrava-se nua e desprovida de vegetação de porte arbóreo. No parque da Pena, plantou carvalhos, semeou bolotas de sobreiro e azinheira (mata da vigia) e semeou penisco na encosta da Cruz Alta entre outras árvores mais exóticas como auraucárias, palmeiras e essencialmente plantas de jardim como as camélias e rododendros.

  

Os primeiros registos de plantações no parque são relativos ao jardim do Inglês em Abril de 1844, local de observação dos trabalhos do palácio e logo após a conclusão da construção dos lagos.

 

"Na Quinta da Abelheira plantaram-se nogueiras, Pinus halpensis, limparam-se árvores e plantaram-se morangos e framboesas"

 

"Na tapada do Mouco semearam-se 7 alqueires de bolota de azinheira".

 

 Na década de 20 do sec. XX, foi dado início à reflorestação da serra de Sintra, nomeadamente dos baldios com pinheiros bravos e cupressus lusitanica.

 

Na década de 50 do século passado foram introduzidos eucaliptos.

  

O incêndio de 1966, devastou praticamente a serra de Sintra do ponto de vista florestal, foram então introduzidas diversas espécies exóticas com o objectivo da produção de lenho, e que após período de ambientação ao local e seu clima se tomaram invasoras como as acácias ou os pitosporos.

Exemplo disto é a plantação de acácias na Tapada de Dom Fernando II, mata do Estado (sob a gestão dos serviços florestais) e agora sob a gestão da PSML.

O rápido crescimento destas plantas e sua fascinante capacidade de progressão, coloca em sério risco a sobrevivência da flora autócotone, folhosa e caduca como a generalidade dos carvalhos (excepção dos sobreiros).

  

3) Sintra aos olhos de todos

 

De forma geral pode constatar-se um total abandono no que diz respeito a manutenção da floresta.

 

 A falta de realização de trabalhos de limpeza da floresta torna Sintra uma grande mancha verde desordenada e com enorme quantidade de combustível que se apresenta de forma continua.

 

Aos privados, são exigidos morosos processos de autorização junto do PNSC, quando (raramente) pretendem realizar qualquer intervenção de limpeza, mesmo quando os trabalhos são para prevenção de incêndios florestais e na protecção de pessoas, bens e infraestruturas, chegando as naturais autorizações a demorar meses para serem obtidas.

 

 O PNSC, não parece ser capaz de responder em tempo às solicitações, em face da falta de técnicos para o acompanhamento dos processos e devido à falta de financiamentos por parte do orçamento.

 

 Acresce o facto de não terem sido revogadas as normativas anteriores a 1994 e assim vêem-se acumular organismos do Estado que se sobrepõem no que diz respeito às autorizações bem como fiscalização dos trabalhos.

 

 Em 25 anos de Área Protegida e 12 de PNSC, poucas ou nulas foram as intervenções com vista ao combate das invasoras lenhosas que destroem a flora local.

 

A gestão dos terrenos baldios municipais, encontra se a cargo da DGRF, dada a criação do Perímetro Florestal de Sintra em 1919.

Ao perímetro florestal foram acrescidos os baldios da serra da Malveira (Cascais) e foi criado o Perímetro florestal da Penha Longa em 1929.

 

É orientada por princípios de gestão económica, mediante a venda de madeiras, sendo objectivo declarado a obtenção de receitas e esquecendo os trabalhos imprescindíveis de limpeza da floresta e controlo das invasoras.

 

4) Sustentabilização da paisagem e a Biomassa

 

Por forma a salvaguardar a serra de Sintra, são imprescindíveis trabalhos que vão no sentido de diminuir o risco de progressão de incêndios e no combate às invasoras.

Estes trabalhos, dispendiosos devem ser valorizados mediante a realização de produtos com valor comercial, por forma a reduzir os custos.

 

Considera-se que a valorização dos resíduos florestais, resultantes de limpezas e desbastes poderão ter aproveitamento energético através da produção de biomassa a utilizar em queimas de aquecimento ou produção de energia eléctrica.

 

Este produto, como todos é limitado pelo que devem ser equacionados os volumes extraíveis garantindo a sustentabilização dos investimentos ao longo do tempo.

 

Nesse sentido, sugere-se a criação de um corpo municipal que possa efectuar os trabalhos, independentemente da titularidade da propriedade, centralizando os trabalhos e o comércio desta fonte de energia.

 

5) A ameaça urbana

 

Verifica-se um considerável aumento de população não só na linha Amadora Sintra, assim como no eixo da orla costeira, é bem viver em Sintra…

Infelizmente, nem sempre são consideradas soluções típicas para a construção e nesse sentido desvirtua-se um conjunto de Património classificado pela UNESCO.

 

Com o aumentar da procura surgem ou ameaçam surgir grandes empreendimentos turísticos, que após a declaração de investimento infraestruturante, podem ultrapassar instrumentos de protecção do território como os regulamentos do PNSC, POOC, REDE NATURA 2000, etc., etc. o que fará aumentar a área humanizada!

 

O espaço Sintra tem vindo a ser descaracterizado de forma geral, e é alvo de elevada pressão como são exemplo as praias no período estival, e que devem ser salvaguardadas sendo implementadas as cargas possíveis de pessoas, por forma a garantir a sua sustentabilidade.

 

Deve ser travada a Humanização desta importante faixa costeira, garantindo a sua tipicidade e qualidade de vida.

 

6) As alterações do uso e do clima

 

Consequentemente um aumento da poluição e aumento da área "natural humanizada", reduzindo o espaço ocupado pelas espécies locais, como as urzes, fixadoras do famoso nevoeiro Sintrense, agora raro...

 

Até à pouco tempo seria impensável fazer praia nas tardes de Agosto nas praias a Norte do Cabo da Roca, no entanto, nestes últimos anos os veraneantes têm podido desfrutar de Sol durante todo o dia...

 

A precipitação oculta provocada pelos nevoeiros, tem enorme influência na humidade e na quantidade de água disponível no solo para as plantas, pois tem carácter constante e facilmente absorvida pelo solo, sendo a escorrência bastante reduzida.

 

Ao revés com o aumento da temperatura, verifica-se um aumento das chuvadas de grande intensidade, que normalmente provocam elevados índices de escorrência, pouco absorvida pelo solo, causando cheias e elevados danos ambientais e em infraestruturas, e finalmente dispendiosos custos monetários…

 

No entanto esta água não é retida e os lagos de Sintra estão vazios…

 

As linhas de água e cascatas apenas funcionam nos. períodos pós chuva e as fontes têm caudais muito reduzidos…

 

No subsolo pode verificar-se a secura das minas que nas históricas tapadas das Quintas e dos parques possibilitavam a criação de majestosos jardins, onde se podiam encontrar espécies dos 4 cantos do Mundo, como em Monserrate.

 

Com os aumentos dos combustíveis e da temperatura, associados a uma diminuição da humidade, cresce o risco de ocorrência de incêndios, que dada a continuidade das manchas poderão atingir dimensões catastróficas, cujas consequências serão no mínimo abruptas alterações no clima.

 

Sendo a floresta nativa praticamente inexistente, o que por si só toma eminente não só a possibilidade destruição da paisagem e grandes dificuldades na possibilidade de regeneração dos ecossistemas, em caso de acontecimento de um flagelo.

 

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