Associação de Defesa do Património de Sintra

 

Microclima de Sintra

 

No programa consta que me vou referir ao microclima de Sintra. Mas... Propuseram-me que vos fale de alterações climáticas; porquê as plantas secam; porquê as andorinhas aparecem mais cedo; porquê Sintra começa a ser mais quente... Então, vou procurar dar-vos indicadores para elaborarem a vossa visão do que está a ser o microclima de Sintra...

As nossas vidas são curtas e agitadas, para nos darmos conta do evoluir do clima.

Em Junho de 1981, há 25 anos, tivemos uma vaga de calor que levou os termómetros a treparem para os 4O°Celsius: 41,5°C no Jardim Botânico em Lisboa, 43 no aeroporto da Portela de Sacavém, 45 em Alvalade, no Alentejo.

Tivemos agora outra e... foi apregoada sem precedentes...

As temperaturas foram acima de 40°C,... mas... sem precedentes, foi ter-se, no fim do Verão, em Setembro, uma temperatura acima de 40°C... em Alvega... a norte do Tejo... (não esqueçam este pormenor!).

O clima está a mudar... Vejamos o que sabemos do clima, no Hemisfério Norte, esta metade da Terra em que nos encontramos.

De amostras de gelo da Gronelândia podemos observar 15.000 anos de evolução do clima no Hemisfério Norte. Vemos que há cerca de 14.500 anos começou um período muito frio, em que de 32,50 abaixo de zero Celsius, durante cerca de 1.700 anos, se chegou ao mínimo de 480 abaixo de zero Celsius. Foi o Younger Dryas. Por volta de 10.200 anos atrás a temperatura começou a subir.

Vejamos agora o que se passou há cerca de 1.300 anos, no período designado Tempo Quente da Idade Média. Há 1.400 anos começou um período seco, que durou até há 1.150 anos: 250 anos de seca, que coincidem com o colapso da civilização Maia: um povo agrícola, tão evoluído, ou mais, em astronomia, do que o povo Egípcio.

De amostras de gelo da Antártida podemos concluir o que se passou em 420.000 anos. Subidas e descidas: das concentrações de CO2 (anidrido carbónico), de CH4 (metano), de variações da temperatura, em graus Celsius. Notemos que as variações são coerentes.

Interessa-nos observar o período Émiano, entre cerca de 130.000 anos e 115.000 anos. Foi um período com comportamento térmico semelhante ao Holocénico em que vivemos, (e que começou há cerca de 13.000 anos), mas com menor concentração de CO2 (que no Holocénico temos feito aumentar aos saltos).

No Émiano a temperatura desceu regularmente; no Holocénico não tem comportamento estável, mas permite-nos localizar, há cerca de 15.000 anos, subida regular, o que leva a entender a figura bíblica do dilúvio como um relato de inundações que os povos de então não sabiam de onde vinham.

Há cerca de 25.000 anos o Atlântico Norte esteve gelado, até à latitude da Normandia, no Noroeste da França.

Até há cerca de 15.000 anos terá havido "icebergs" ao largo da actual costa oeste de Portugal.

Em qualquer dos gráficos que vimos teremos notado a variabilidade climática ao longo dos tempos, mas em períodos de milhares de anos.

Há cerca de 5.000 anos o deserto de Sara era uma região agrícola próspera, verde e com lagos. Em 500 anos, 5 séculos, transformou-se no deserto que é e que está a aumentar, para Sul... e para Norte...

Em 1981/83 realizou-se um projecto que juntou Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Turquia. Chamou-se MEDALUS, sigla de Mediterranean Desertification and Land Use (desertificação mediterrânea e uso da terra).

Pretendeu-se verificar exactamente a propagação do deserto de Sara para o Sul da Europa e concluiu-se que a linha, de risco era: Oeste da Turquia, grande parte da Grécia, Sueste da Itália e a Sicília, Sueste da Sardenha e quase a metade sul da Península Ibérica. Ampliemos a Península... Em 1983 a linha de risco já passava a norte do rio Tejo, onde se encontra Sintra... Onde passa essa linha, em 2006, com tantos incêndios?...Acção antropogénica.

Entretanto, os movimentos astronómicos processam-se. A Terra move-se em torno do Sol e a precessão dos equinócios progride com uma volta completa em cerca de 23.000 anos: 230 séculos, 1 °34' por século. O desvio entre os eixos dos ápsides e dos solstícios é já de 30°. Os dois eixos coincidiram há cerca de 20 séculos, 2.000 anos. Daí para cá o equinócio ocorre cada vez mais cedo e a Primavera vai começando um pouco mais cedo: e o florir das plantas começa um pouco mais cedo, com as andorinhas a aparecerem também mais cedo. O relógio astronómico, não pára.

Mostrei-vos que, naturalmente, o clima da Terra tem estado sempre a mudar, a uma escala astronómica, que não permite ao ser humano senti-Ia.

Mas o homem, com as suas aventuras ambientais, tem estado a acelerar a evolução do clima.

Desde a revolução industrial, no f1m do século 18 e começo do século 19, temos vindo a aumentar a concentração de CO2. Os resultados estão à vista.

Realizaram-se reuniões sobre o clima em Montreal, no Rio de Janeiro, em Kioto. Os cientistas participantes mostraram os riscos. A nossa acção antropogénica, os forçamentos antropogénicos, com gases de efeito de estufa, aquecem a Terra a uma razão de cerca de 2W/m2, o equivalente a duas lâmpadas de 1 W em cada metro quadrado: duas lâmpadas daquelas pequeninas que usamos no Natal, acesas em cada metro quadrado da Terra. Parece pouco, mas os forçamentos pequenos, persistentes, têm efeito superior a uma erupção vulcânica.

Os gelos da Terra estão a derreter de tal modo que as coberturas de gelo, em qualquer parte da Terra, estão já bastante reduzidas.

Como exemplos: No Pólo norte, o urso branco, um nadador exímio, mas pouco resistente a nadar, afoga-se, porque já não tem banco de gelo contínuo e tem de nadar de bloco para bloco. As ursas brancas quando engravidam preparam uma toca no gelo, entram em hibernação e têm as suas crias, duas normalmente. Mas as águas agora sobem, inundam as tocas e afogam mães e crias. Os pinguins da Antártida, deixam as suas crias em terra e vão ao mar recolher comida. Mas as fracturas do banco de gelo obrigam a desvios e a demoras de dias, que estão a custar a vida particularmente às crias famintas.

Na Gronelândia, no Verão de 2003, sucedeu... que, subitamente o gelo cedeu numa ravina... e escorreu... em avalanche.

Kioto foi a terceira tentativa. Mas o que esperar quando se fixou que um país poluidor pode contribuir para o desenvolvimento dos países pobres não poluidores até... o poluidor deixar de poluir...

O clima está a mudar... Naturalmente. Que o homem não acelere essa mudança.

O medo da subida dos oceanos não perturba o sono de políticos responsáveis... Possivelmente contam que terão uma canoa disponível para não se afogarem. Mas como disse um cientista: estamos a brincar com o clima como quem está numa canoa, no meio de um lago, e quer dançar na canoa...

A investigação da evolução provável do clima leva-nos a concluir que os fenómenos extremos têm tendência para serem cada vez mais frequentes e mais violentos, ou seja: calor e frio, secas e inundações tempestades, mais frequentes e mais violentas.

Uma última investigação da evolução do clima: ONDE haverá água em 2025?!.

A Península Ibérica terá problemas sérios de falta de água... Porque vai chover menos... Porque a temperatura vai subir e haverá menos neve nos picos...

Penso que vos dei indicadores de solução para as vossas dúvidas:

- alterações climáticas, o quê?

- porquê as plantas secam?

- porquê as andorinhas aparecem mais cedo?

- porquê Sintra começa a ser mais quente?

 

 

Anthímio de Azevedo

 

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