Associação de Defesa do Património de Sintra

 

Património Histórico - Cultural

Agualva-Cacém

 

Faço votos para que a Associação tenha uma longa duração, pois, se assim acontecer, certamente muitos benefícios daí resultarão em prol da protecção do património histórico-cultural de Sintra.

Agradeço o convite que me foi dirigido para participar com uma comunicação nesta iniciativa evocativa de um quarto de século de actividade da Associação e nesta sala da Nau, no Palácio Valenças, onde durante tantos anos aqui fiz as minhas intervenções, primeiro como deputado municipal e depois como presidente da Assembleia Municipal de Sintra. Terei em conta a preocupação de ser tão breve quanto o possível, para não prejudicar o normal funcionamento dos trabalhos.

A minha comunicação diz respeito ao património histórico-cultural de Agualva-Cacém. Esta cidade do concelho de Sintra, ocupa uma área de 1050 ha, a que corresponde 3,3% da área total do concelho, conta com uma população estimada em quase 120 mil habitantes, o que perfaz cerca de 23% da população total residente no concelho. É um dos 15 maiores centros populacionais do País, fruto do acelerado desenvolvimento urbano ocorrido nas últimas décadas.

Inicialmente existia apenas uma freguesia, Agualva-Cacém, criada em 15 de Maio de 1953 e elevada à categoria de vila em 20 de Setembro de 1985. Hoje existem quatro freguesias e um dos mais progressivos centros urbanos da Área Metropolitana de Lisboa. A indústria é crescente e há uma notável dinâmica comercial. Está dotada de variadíssimos equipamentos e serviços, mas insuficientes para justificar em pleno o estatuto de cidade.

Um dos objectivos do Programa Polis Cacém é a valorização do património histórico ou natural e a sua reintegração na cidade. A sua concretização irá mudar radicalmente a estrutura central de Agualva-Cacém. A aplicação do Programa Polis e as suas consequências podem melhorar substancialmente o estatuto de cidade, mas não criam todas as valências necessárias. Tem sido uma cidade – dormitório, onde o betão impera, mas não perdeu ainda a sua identidade que está identificada por uma história e um património histórico e cultural. Uma história de séculos, repleta de figuras de relevo que contribuíram para a construção deste país. O património ainda hoje existe, mas irá rapidamente, se não forem prestados os devidos socorros, definhar e desaparecer.

 

Importa então referir esse património:

- As estações arqueológicas de S. Marcos e de Colaride (estação de Rocanes).

- A Anta de Agualva, classificada como monumento nacional, mas abandonada, sem qualquer protecção.

- A Quinta dos Lóios, junto à Ribeira da Jarda, onde nasceu D. Domingos Jardo, bispo de Lisboa e chanceler – mor de D. Dinis.

- A Quinta da Fidalga ou Quinta de N. Sra. Do Monte do Carmo, situada no Largo da República, em Agualva, ligada ao nome do escritor e filósofo Matias Aires, que ali viveu e veio a falecer em 1763. A Câmara Municipal aprovou recentemente a sua classificação como imóvel de interesse municipal, mas tal não significa protecção. Está à venda. Não se conhece o seu destino.

- A Quinta da Bela Vista, que pertenceu ao ilustre republicano Joaquim Ribeiro de Carvalho e cuja casa residencial está ao abandono em acelerada degradação. A Câmara aprovou também recentemente a sua classificação como imóvel de interesse municipal, mas se não chegar rapidamente a acordo com o proprietário, este património desaparecerá. Há anos que decorrem contactos sem soluções.

- Os templos quinhentistas de S. Marcos e de Nossa Senhora da Conceição, em Agualva.

- Até há poucos anos existia a mais antiga das feiras tradicionais da região saloia, realizava-se desde 1713, no local de Agualva.

- O Casal da Charneca, um exemplar de arquitectura saloia do século XVIII, com o ano de 1760 inscrito na frontaria da casa e que hoje, depois de restaurado, constitui um verdadeiro ex-libris da Escola Matias Aires, situada no alto da Abelheira.

- A gruta de Colaride, inicialmente designada pela população local como Fojo dos Mouros, Buraca dos Mouros ou Gruta dos Mouros.

- O Chafariz do Cacém de Cima.

- O Cruzeiro de Agualva, no Largo da República.

- O Moinho de Mira-Sintra.

- O Monumento ao Professor.

- O Monumento ao Bombeiro.

 

Por aqui se vê que, apesar de Agualva-Cacém ainda ser essencialmente uma cidade – dormitório e as pessoas se movimentarem por um emaranhado de betão, existe um testemunho do passado que, se preservado, se apoiado pelas autarquias, Município e Juntas de Freguesia, se estimado pela população com o apoio de estruturas, como a recém criada Comissão Pró Desenvolvimento de Agualva-Cacém, de que sou o coordenador, poderá ficar disponível para os vindouros, fazendo a ligação fundamental entre o passado, o presente e o futuro.

O património é uma herança cultural. As pessoas começam a ter uma maior consciência cívica da necessidade da sua preservação. A população começa a manifestar-se contra determinadas construções, demonstrando uma maior sensibilidade para as questões do património. Os jovens também estão cada vez mais atentos e interessados na sua preservação. Aliás há uma nova geração a ganhar para o património e a construir uma sociedade mais solidária na defesa dos vestígios do passado. É fundamental salvaguardar os monumentos e os edifícios históricos e transmiti-los em boas condições às futuras gerações.

Este ano alunos do Agrupamento de Escolas Ribeiro de Carvalho e da Escola Secundária Gama Barros desenvolveram com os seus professores acções de sensibilização para a preservação da Casa de Ribeiro de Carvalho que, como atrás referi, infelizmente está prestes a desaparecer, pois a ruína total está iminente. Talvez essas acções tenham sido em vão, mas sabemos que os sentimentos de identidade cultural e de pertença a um passado comum desenvolvem-se principalmente na infância e na juventude e, por isso, há que apostar para garantir o futuro do património. A Educação, através das escolas, e a defesa do património podem e devem estar cada vez mais associadas. O património não pode estar fechado sobre si mesmo mas sim deve ser, na minha opinião, integrado no ensino curricular da História. O património local deve ser matéria a constar logo nos programas do ensino básico.

De acordo com o artº. 9º da nossa Constituição da República são tarefas fundamentais do Estado proteger e valorizar o património cultural do povo português, por isso, espero, esperamos, os cidadãos de Agualva-Cacém, que o Governo, o Município de Sintra e as Freguesias da cidade, cumpram estas tarefas. Por seu lado acredito, acreditamos, os que lutam pela Defesa do Património, como esta Associação, que hoje estamos a festejar os seus 25 anos de existência, que cada vez existirão mais homens e mulheres deste país a cumprirem o dever, constante no artº. 78 da mesma Constituição, preservando, defendendo e valorizando o património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum, permitindo a todos a fruição e a criação cultural.

Urge também alterar drasticamente as mentalidades de muitos que detêm o poder e de unir mais os portugueses e, no que a nós diz respeito, os sintrenses, na defesa do que é nosso – o património histórico-cultural. É preciso conhecer o passado, preservar as suas raízes, para se construir um melhor futuro para os portugueses, para Portugal.

 

Jorge Trigo

 

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