Associação de Defesa do Património de Sintra
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DIA MUNDIAL DO AMBIENTE
5 de JUNHO
Educador, Divulgador, Ecologista - Um Amigo da Serra de Sintra Excertos e resumo de ideias expressas na obra “Um Futuro para o Nosso Ambiente” da autoria do Dr. José de Almeida Fernandes a editar brevemente pela ADPS. Desde há mais de 15 anos, diversas “crises mundiais” tem afligido os seus cidadãos: petróleo, sociais, seca e desertificação. Embora o planeta viva actualmente um período de crescimento espectacular e de profundas mudanças, 90% da população, num futuro mais ou menos próximo, nascerá nos países que são hoje os mais pobres. A desflorestação (sobre-exploração e fogos), a poluição, as grandes deslocações de populações fugindo às secas, os acidentes nucleares, os cataclismos naturais, as campanhas de utilização de insecticidas e pesticidas de vida longa, as guerras, são fenómenos que ameaçam as estreitas regras da Natureza e seu funcionamento. Resultam assim grandes perturbações ambientais. Mas o que é o Ambiente? Para nós tudo o que liga o passado ao presente e este ao futuro, que permitiu e garantiu o pulsar da vida sobre a Terra e permitiu ao próprio homem a sua permanência nela, de um modo cada vez mais organizado, num crescendo de solidariedade, no tempo e no espaço. É urgente uma mudança, a começar por cada um de nós, pelos nossos sistemas de valores, políticos e económicos. Daí a escolha dos investimentos e orientação das instituições, a ser determinadas em função simultaneamente das necessidades actuais e das futuras. Que as gerações actuais não hipotequem o futuro das gerações vindouras, tanto nos aspectos ambientais que condicionam o desenvolvimento, como o capital genético (com o desaparecimento de espécies animais, vegetais e microorganismos). Há que reorientar as actividades humanas, mudar mentalidades, planear, governar, com sabedoria e menos egoísmo e mais justiça, mobilizar os cidadãos, incrementar a investigação científica e os sentidos de solidariedade, enfim educar.
O Homem, afinal, pode ser a medida de todas as coisas! Dr. José de Almeida Fernandes
Poesias alusivas à Serra de Sintra
Ve que as nuvens abaixo errando andavam Cubrindo os valles que altas serras fendem; Desce até que per cima lhe ficavam, Que em fria sombra pelo ar se estendem Bosques de ferteis plantas se mostravam, De cujos ramos vários frutos pendem ...
(Luís Pereira Brandão (1540) – Elegiada)
Chôpos, Fayas, Sobreiros, e Carvalhos Se perfilam nos ásperos caminhos Retrocidos maninhos Ao alto vão por íngremes atalhos, Por entre fragas duras, e urzes bravas Que tu, ó Serra, em brancas agoas lavas.
(Ricardo Raymundo Nogueira (1814) – A Serra de Sintra)
Ei-las, erguendo ao céu as cômas desgrenhadas, As árvores de olhar certeiro à luz e ao vento. Quem escuta, quem traduz o seu feroz lamento Por noites de tormenta, ao longo das estradas?...
(Oliva Guerra (1940) – Roteiro Lírico de Sintra)
A TERRA ESTÁ DOENTE
Segundo a Lei Portuguesa, Ambiente é: “O conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e as suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais, com efeito directo ou indirecto, mediato e imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem”. A fim de preservar o Ambiente, o Homem deve parar, olhar, ouvir, ler, onde quer que esteja. Sobretudo observar e meditar. Temos de evitar, continuar a assistir à degradação do meio físico e biótico (vida), à deterioração da relação entre os seres vivos e o Ambiente (ecologia); às mudanças climáticas bruscas, com o aquecimento global, vendavais, inundações, secas, melhorando ao mesmo tempo a qualidade da vida do Homem (económica, social, cultural etc...). O desaparecimento de muitas civilizações que nos antecedem ficou a dever-se, em grande parte, à corrupção dos costumes, aos cataclismos naturais, às más práticas agrícolas e florestais que provocam erosão dos solos, fogos, sobre-exploração florestal etc... . Muitos destes locais hoje cobertos de areia; devemos prevenir que isto não se repita. Não hipotequemos o capital e o futuro das gerações vindouras.
E.RAFAEL (Eng. Agrónomo)
Árvores da Minha Vida
O chão era de saibro, ou quase. Era mais terra batida em tom claro e róseo. A alameda era delineada pela casa e anexos: uma construção algo recente em tijolo e cimento, um ancestral lagar em granito, a casa pequena com o piso térreo dos caseiros enegrecido pelo fumo e um piso superior engrinaldado de granito, à maneira dos solares da região. Mais à frente, outro grande tanque em granito para pisar as uvas, armadilha para as vespas embriagadas, e mais adiante o curral. Aí começava o muro baixo de pedra sobre pedra, atrás do qual se estendia o bosque mágico das avelaneiras. Todo o outro lado da alameda era corrido pela sebe de buxo que ocultava os terrenos da lavoura, mas não a copa da figueira. Já entre o muro do bosque e a sebe das hortas, havia uma comprida mesa feita de um só bloco de granito, para junto da qual, no Verão, se levavam os humildes bancos corridos da lareira, e se passavam as tardes à sombra do enorme castanheiro que cobria tudo aquilo. De um dos seus ramos que atravessava toda a alameda, pendia um baloiço feito com sacas de serapilheira suspenso com grossas cordas que, sem cinto de segurança, nos levava vários metros em voo, num arco de mais de 90º, entre gritos de pássaros de Estio. É a esse castanheiro que eu quero agradecer em primeiro lugar. Lembro-me que todos o respeitavam como o membro mais velho da família. À sua sombra não havia disputas. Quanto às castanhas, as que caíssem do outro lado do muro eram dos outros, as do lado de cá eram nossas. Não me recordo como é que passávamos para o outro lado do muro e penetrávamos na suavidade do bosque onde as cores e os sons dormiam a sesta. Como podia haver ali algo de assustador, se trepar às avelaneiras era mesmo uma brincadeira de crianças? Quando aprendi na escola umas canções medievais sobre avelaneiras floridas de símbolos, já eu tinha passado tardes em terras de fadas e sabia que as avelãs que comia pelo Inverno eram dádivas suas. Pelas avelãs e por tudo o resto, para esse bosque a minha lembrança e a minha gratidão fogem de mãos dadas. (may be that’s the reason why you are nuts…). Sobre a quinta devo dizer que, a dada altura, a sebe de buxo era substituída por videiras em sebe, depois em latada, e deste modo se embrenhava o caminho pelos terrenos desnivelados onde nada era uniforme quando deixávamos a rua larga e seguíamos pelas transversais. Havia várias fontes muito bonitas. Lembro-me da fonte de São Pedro, ao fundo de um recinto quadrangular subterrâneo, completamente forrado de hera. Havia degraus num dos lados. Sobre a mina e a bacia estava uma imagem do santo com as suas chaves, num nicho pintado de azul celeste. Era esta deliciosa água que tínhamos que carregar até casa, era o peso da chave para o Céu. E eu pergunto que revigorante divindade feminina residia ali, antes de ser substituída pela Pedra da Igreja. Das outras fontes lembro-me vagamente como locais simpáticos, mais ou menos cuidados e igualmente generosos.
A outra árvore a que quero prestar homenagem é um salgueiro. De entre as duas ou três dezenas de tipos de salgueiros que existem, não saberia classificar este meu salgueiro. Posso dizer que quando o conheci já era mais alto do que muitos dos que se vêem, por vezes, nos jardins de pequenas moradias, mas talvez não fosse salgueiro branco. Da casca deste último pode-se extrair uma substância analgésica e anti-inflamatória que, depois de muitas manipulações em laboratório, foi convertida no fármaco designado por ácido acetilsalicílico, de salix (salgueiro). Conheci este salgueiro em 1979, durante a minha estadia na Suíça, no parque de campismo de Saxon, na região do Vallais. Era junto ao seu tronco que eu pernoitava, sem tenda, num saco-cama improvisado. Uma noite acordei com os protestos aflitos dos campistas, no meio do som forte da chuva a cair na relva, nas folhas, ao longe no pano das tendas, nos carros, nas caravanas. A água entrava nalguns habitáculos deixando os seus ocupantes em alvoroço. Tacteei a relva e estava enxuta. A abóbada de folhas sustivera o ímpeto daquela inesperada chuva de Verão.
Fim de tarde de Abril a ouvir Chopin, Balada nº 1 em Sol menor opus 23, Diante do Sol que descia.
No azul ainda claro àquela hora, Laivos de lembranças de flamingos eram as nuvens.
Mas pouco a pouco o azul se transformava Em bodas de papel de seda com papel de lustro, Sustendo a linha das copas contra luz ao longe, Para lá do horizonte pardacento dos telhados.
Do outro lado da rua, As folhas primaveris das árvores podadas no final do Inverno, Criavam um padrão, como um alfabeto multimilenar, Velando sabe-se lá que mistérios. . .
Por entre este faustoso cortejo fúnebre do Sol, Há uma árvore imensa, Que se eleva muito acima das outras, E que faz lembrar uma araucária, embora sem a rigidez da forma.
Deve ser da família dos cedros.
É genial.
Há uma rua em Sintra que, sem ter a grandiosidade da Volta do Duche, me transporta para uma época em que a Terra era mais jovem. No meu caminho diário para o mundo da alienação laboral, eu tenho o privilégio de poder observar uma faixa de vegetação composta de sebes de buxo, canteiros, arbustos e até . . . árvores! Neste breve trajecto as plantas tornam-se-me imensas, a ponto de se vislumbrar, por entre a folhagem, olhos de felinos à espreita. Bom dia Rousseau le Douanier! Ao cimo da rampa há uma árvore com folhas de um recorte tão elaborado e harmonioso, que a mão que o desenhou dançava na brisa, ou dirigia a orquestra do som que fez ondular as águas e esculpir búzios e conchas. E perto dessa árvore, num recanto discreto, há um poste de outra era, a que só falta suspender um dístico com o nome da Rua do Número de Ouro. . . Também lá está um cedro, ou um cipreste, sobrevivendo à poluição e, mais abaixo, a árvore mais frondosa que se derrama sobre o passeio como uma benção, e que no Verão se enche de pequenas bagas vermelhas (e de exóticos pássaros multicolores na minha imaginação). Nesta rua em que tudo vibra, o anil dos agapantos extasia-me. As flores rosa e branco que teimam em desalinhar a sebe, deliciam-me com a sua irreverência. O pássaro desenhando uma rota que não consigo ver por inteiro. As lagartixas que fremem e se esgueiram sob o Sol. As abelhas que progridem pelos canteiros em constantes manobras de “afloragem”. O verde, que mesmo no Inverno, não nos abandona, como tudo o resto. E mesmo passando depressa eu absorvo intensamente todo este vibrar, e agradeço a todos estes seres, pela energia que reverte para cada célula do meu corpo, a energia que me suaviza a queda na rotina e me acompanha a ascensão no final do dia. YsaS © |